sábado, 18 de abril de 2009

Chegando ao final...

abaixo, um nobre comentário do ilustrador Céllus

Oi, Julio.

Ai vão algumas leituras que fiz entre o tema da música contemporânea e a sua animação:

No começo do filme aparece um metronomo que me recordou o Poeme Symphonique (100 metromones) de Gyorgy Ligeti.

As engrenagens na cabeça do maestro me lembraram, imediatamente, umas das colagens dadaistas de Raoul Hausmman, "Tattlin at home" por isso aquela ideia de um Karajan dadaista.

As engrenagens na cabeca do maestro tambem remetem diretamente a um dos pontos básicos da musica contemporanea, a relaçao entre musica e o elemento sonoro produzido por máquinas, tanto as de origem concreta, o conceito criado por Pierre Schaeffer em 1950, onde ele estuda a fonte sonora dentro de uma abordagem fenomenológica, em que o elemento sonoro independe do conceito romantico do que é musica (melodia, ritmo e harmonia) e passa a levar em conta o fato de ser um "objeto sonoro" produzido a partir da vivencia humana e do seu progresso. Outro aspecto desta relação musica/máquina é a própria sintese de elementos somente por meios eletrônicos (manipulacão de fita magnetica em estudios), a música eletroacustica, que tinha seu nascimento por volta de 1954, com os primeiro estudos na Alemanha (Stockhausen), Itália (Berio, Nono), França (Boulez) e Russia (Ussachevsky e Luening). Esta relação musica/máquina é tão patente desde o inicio do século XX, as composiçoes do futurista Luigi Russolo, com seus geradores de ruido, o Ballet Mecanique de George Antheil, com o uso de sirenes e uma inovação ritimica que tentava emular a rapidez do progresso nas grandes cidades, esta peça foi criada para trilha sonora de um filme dada de Leger com o mesmo nome. Outro compositor a usar a maquina como uma fonte sonoara foi Colon Nankarrow, que compôs peças de complexidade ritmica tão grande que eram impossiveis de serem executadas por humanos, levando Nancarrow a recorrer às antigas pianolas com seus rolos metálicos para tocar suas obras. Em uma de suas últimas obras, Quarteto para Helicóptero, Stockhausen recorreu a execução da obra por um quarteto dentro de um helicoptero em pleno voo (uma tentativa de unir a musica romantica/humana com o ruido do conceito concreto?)

Um aspecto que me chamou atenção na animação foi a ausência de cenário e platéia, o que suscita uma idéia de vazio, que por tratar do tema da música nos direciona ao conceito do silêncio. Outro elemento sonoro que só veio a ser posto em discussão na música contemporânea, de forma eloquente por Johh Cage ("4:33", peça composta só de pausas, onde os executantes não tocam nada, o que se escuta são os sons ambientes produzidos pela platéia). Cage também fazia uso do aleatório na musica, a partir de conceitos da filosofia Zen.

No fim da animaçao a música é abruptamente interrompida e guardada na cabeça do maestro, de uma maneira bem mecânica, astreptosa, anti-climatica, como a proposital quebra de um discurso, de uma sintaxe que se desenvolvia através de diálogo entre o conceito romântico de música (sons de instrumentos convencionais de orquestra que contruiam uma melodia) e a nova abordagem da música contemporânea (outra abordagem ritmica, ruidos de natureza mecânica e eletronica). O que nos deixa a sensação de uma discussão inacabada.
É isso.
Abs

Céllus

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